segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O Materialismo Marxista


Para Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) a teoria hegeliana do desenvolvimento geral do espírito humano não conseguia explicar a vida social, que se apresentava, de um lado, como avanço técnico, como aumento do poder do homem sobre  a natureza, como enriquecimento e como progresso; mas, de outro, e contraditoriamente, trazia a escravidão crescente da classe operária, cada vez mais empobrecida.
Karl Marx  e Friedrich Engels 
Dando sequência ás críticas feitas por Feuerbach ao idealismo hegeliano, Marx e Engels realizam a inversão desse mesmo idealismo, assentando as bases do materialismo dialético: “a dialética de Hegel foi colocada com a cabeça para cima ou, dizendo melhor, ela, que se tinha apoiado exclusivamente sobre sua cabeça, foi de novo resposta sobre seus pés”.
A teoria marxista compõe-se de uma teoria cientifica, o materialismo histórico, e de uma filosofia, o materialismo dialético.
Para o materialismo, o mundo material é anterior ao espírito e este deriva daquele. Trata-se de uma visão oposta ao idealismo, que considera o mundo material como a encarnação da “ideia absoluta” da “consciência”. Para os materialistas, a história da filosofia tem uma longa tradição idealista que está pressuposta até nas teorias em que o idealismo não transparece de imediato, como a teoria do Primeiro Motor Imóvel, com a qual Aristóteles explica o movimento do mundo.
Segundo a visão materialista, o movimento é a propriedade fundamental da matéria e existe independentemente da consciência. A matéria é um dado primário e é a fonte consciência. A consciência é um dado secundário, derivado, pois é reflexo da matéria.
No entanto, é preciso distinguir o materialismo marxista, que é dialético, do materialismo anterior a ele, conhecido como materialismo mecanicista ou “vulgar”. Este se funda numa causalidade linear que simplifica grosseiramente a ação de matéria sobre o espírito, não permitindo ao homem nenhuma possibilidade de liberdade. Com o pensamento é reduzido a uma secreção do cérebro, e a ação humana é determinada pelas condições materiais das quais não pode fugir.
Enquanto o materialismo mecanicista parte da constatação de um mundo composto de coisas e, em última análise, de partículas materiais que se combinam de forma inerte, o materialismo dialético parte da consideração de que os fenômenos materiais são processos. Tal mudança de enfoque se tornou possível porque no século XIX as ciências descobrem novas formas de movimento além do movimento mecânico de simples mudança de lugar ou deslocamento: a descoberta da transformação da energia, a descoberta da célula viva e a descoberta da evolução das espécies. Essas novas formas indicam a possibilidade de mudança qualitativa. O mundo não é uma realidade estática, não é um relógio, um mecanismo regulado pelo “divino relojoeiro”, mas é uma realidade dinâmica, é um complexo de processos. Por isso, a abordagem da realidade só pode ser feita de maneira dialética, que considera as coisas na sua dependência recíproca, e não linear. Como vimos em Hegel, a dialética se processa segundo a tríade da tese, da antítese e da síntese.
No contexto dialético, também o espírito não é consequência passiva da ação da matéria, podendo reagir sobre aquilo que o determina. Isso significa que a consciência do homem, mesmo sendo determinada pela matéria e estando historicamente situada, não é pura passividade: o conhecimento do determinismo liberta o homem por meio da ação deste sobre o mundo, possibilitando inclusive a ação revolucionária.
O materialismo histórico não é mais do que a aplicação dos princípios do materialismo dialético ao campo da história. E, como o próprio nome indica, é a explicação da história por fatores materiais (econômicos, técnicos). O sendo comum pretende explicar a história pela ação dos grandes homens, das grandes ideias ou, às vezes, até pela intervenção divina. Marx inverte esse processo: no lugar das ideias, estão os fatos materiais; no lugar dos heróis, a luta de classes. Não nega, com isso, que o homem tenha ideias, mas as explica pela estrutura material da sociedade: a ideia é algo secundário, não no sentido de menos importante, mas no de algo derivado das condições materiais.
As ideias que aparecem tanto no direito como na literatura, na filosofia, nas artes e na moral estão diretamente ligadas ao modo de produção econômica. Por exemplo, a valorização da fidelidade do vassalo ao suserano na moral na sociedade da Idade Média decorre da relação de produção que os liga fortemente. Sem a fidelidade, essa relação de produção estaria arruinada. Na sociedade contemporânea, baseada no modo de produção capitalista, com a emergência da industrialização em grande escala, surge o consumismo como valor, ou seja, o precisar ter coisa para se sentir humano e aceito na sociedade.
Portanto, para estudar a sociedade não se deve, segundo Marx, partir do que os homens dizem, imaginam ou pensam, mas da forma com produzem os bens materiais necessários a sua vida. É analisando o contato que os homens estabelecem com a natureza para transformá-la por meio do trabalho e as relações entre si que se descobre como eles produzem sua vida e suas ideias.