Mais recentemente, o filósofo francês
Michel Foucault (1926-1984) estabelece um nexo entre saber e poder. Ao
contrário da tradição moderna, pela qual o saber antecede o poder, antes é o
poder que gera o saber. Propõe então o processo genealógico pelo qual busca
descobrir como a verdade tem sido produzida no âmbito das relações de poder.
Suas investigações se iniciam a
partir do exame das condições do nascimento da psiquiatria e pela descoberta de
que o saber psiquiátrico não se constitui para entender o que é a loucura, mas
como forma de poder que antes propicia o processo de dominação do louco e de
seu confinamento em instituições fechadas. Além disso, os mendigos passam a ser
recolhidos em asilos e também se tornam um objeto de uma “tática dos mecanismos
dualistas da exclusão que separa o louco do não louco, o perigoso do
inofensivo, o normal do anormal”.
Concomitantemente ao confinamento,
nos outros setores da sociedade iniciam-se, a partir do século XVII e XVIII, os
processos disciplinares que visam a tornar os corpos dóceis e submissos. Isso
não significa que antes não houvesse disciplina, mas que, a partir daquele
momento, ela se torna fórmula geral de dominação exercida em diversos espaços:
nos colégios, nos hospitais, na organização militar, na medicalização da
sexualidade, nas oficinas, na família. Nesses locais se da o controle do
espaço, do temo, dos movimentos, sob um olhar vigilante que se torna
introjetado no indivíduo.
A extensão progressiva dos
dispositivos de disciplina ao longo daqueles séculos, sua multiplicação no
corpo social, define o que se pode chamar de “sociedade disciplinar”. Dessa
forma, desenvolve-se uma “microfísica do poder”, porque, para Foucault, o poder
não se exerce de um ponto central como o indivíduo, o grupo, a classe ou
qualquer instância do Estado, mas está disseminado em uma rede de instituições
disciplinares. São as próprias pessoas, nas suas relações reciprocas (pai,
professor, vizinho, médico), que, baseando-se no discurso constituído, fazem o
poder circular. Cabe à genealogia investigar como e por que esses discursos se formam
que poderes estão na origem deles, ou seja, como o poder produz o saber.
À medida que a burguesia se torna
classe dominante a partir do fim do século XVI e inicio do século XVII, a o
capitalismo emergente e depois ao processo de produção industrial, interessa
essa micromecânica do poder pela qual se exigem formas de disciplina que
excluem os incapazes e inúteis para o trabalho – como loucos e mendigos -, e
desenvolvem-se mecanismos de controle, a fim de tornar os corpos dóceis e os
comportamentos e sentimentos adequados à nova forma de produção.
Diz Foucault: “A burguesia
compreende perfeitamente que uma nova legislação ou uma nova constituição não
serão suficientes para garantir sua hegemonia; ela compreende que deve inventar
uma nova tecnologia que assegurará a irrigação dos efeitos do poder por todo o
corpo social, até mesmo em suas menores partículas”.
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