segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O idealismo Hegeliano e a Dialética Idealista


A filosofia kantiana influenciou o pensamento do século XIX, seja na orientação dada pelos materialistas e positivistas, seja na dos idealistas, entre os quais se destacam Fichte, Shelling e Hegel.
Wilhelm Hegel (1770-1831)
O alemão Wilhelm Hegel (1770-1831) introduz uma noção nova, de que a razão é histórica, ou seja, a verdade é construída no tempo. Partindo da noção kantiana de que a consciência (ou sujeito) interfere ativamente na construção da realidade, propõe o que se chama de filosofia do devir, ou seja, do ser como processo, como movimento, como vir-a-ser. Desse ponto de vista, o ser está em constante transformação, donde surge a necessidade de fundar uma nova lógica que não parta do princípio de identidade (estático), mas do princípio de contradição para dar conta da dinâmica do real, a que chama a dialética.
Para tanto, Hegel desenvolve novo conceito de história, também dialético: o presente é engendrado por longo e dramático processo; a história não é a simples acumulação e justaposição de um processo cujo motor interno é a contradição dialética.
Segundo a dialética, todas as coisas e ideias morrem. Como diz o poeta Goethe: “Tudo o que existe merece desaparecer”. Mas essa força destruidora é também a força motriz do processo histórico. A ideia central é a de que a morte é criadora, é geradora. Todo o ser contém um si mesmo o germe da sua ruína e, portanto, da sua superação. O movimento da dialética se faz em três etapas: tese, antítese e síntese, ou seja:
1.      Tese: afirmação;
2.      Antítese: negação;
3.      Síntese: negação da negação.
Ao explicar o movimento gerador da realidade, desenvolve uma dialética idealista: no sistema hegeliano, a racionalidade não é mais um modelo a se aplicar, “mas é o próprio tecido do real e do pensamento”. O mundo é manifestação da ideia, “o real é racional e o racional é real”. A história universal nada mais é do que a manifestação da Razão.
Como ponto de partida do devir, Hegel coloca não a natureza – a matéria -, mas a ideia pura (tese). Esta, para se desenvolver, coloca um objeto oposto a si, a Natureza (antítese), que é a ideia alienada, o mundo privado de consciência. Da luta desses dois princípios antitéticos nasce uma síntese, o Espírito, há um tempo pensando e matéria, isto é, a ideia que toma consciência de si através da Natureza.
O conhecimento estabelecido a partir de uma realidade dada, imediata, simples aparência, é chamado por Hegel de conhecimento abstrato, ao qual opõe o conhecimento do ser real, concreto, que consiste em descrever o modo como uma realidade é produzida. Conhecer a gênese, processo de constituição pelas mediações contraditórias, é conhecer o real. Por esse movimento a Razão passa por todos os graus, desde o da natureza inorgânica, da natureza viva, da vida humana individual até social.
Os dois últimos graus (do homem individual e social) são a manifestação, num primeiro momento, do Espírito subjetivo do homem, ainda encerrado na sua subjetividade (enquanto emoção, desejo, imaginação). Ao Espírito subjetivo se opõe a antítese do Espírito objetivo, ou seja, o espírito exterior do homem enquanto expressão da vontade coletiva por meio da moral, do direito, da política: o Espírito objetivo se realiza naquilo que se chama mundo da cultura. Essa relação antítese é superada pelo Espírito absoluto, síntese final em que o Espírito, terminando o seu trabalho, compreende-o como realização sua. A mais alta manifestação do Espírito absoluto é a filosofia, saber de todos os saberes, quando o Espírito atinge a absoluta autoconsciência. Por isso, Hegel a chama de “pássaro de Minerva que chega ao anoitecer”, ou seja, a crítica filosófica se faz ao final do trabalho realizado.
Na filosofia posterior a Hegel, tornou-se fecunda a ideia de que a razão histórica e se transforma a partir dos conflitos e contradições. Como vemos, ora os pensadores reafirmam o caráter determinante da razão e reforçam o idealismo, ora criticam esse idealismo, como os marxistas, que enfatizam as contradições sociais e políticas como determinantes do processo que provoca a mudança da própria razão.

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sábado, 29 de dezembro de 2012

A religião da Humanidade

Templo Positivista

Essa rígida construção teórica culmina com a concepção da religião positiva. É ela que, integrando a sociedade dos vivos na comunidade dos mortos, na trindade formada pelo Grande Ser, pelo Grande Feitiço e pelo Grande Meio, fornecerá o enquadramento social que colocará os indivíduos ao abrigo das convulsões históricas. Não deixa de ser estranho constatar a criação de uma religião positiva, se considerar que o contexto comtiano privilegia o positivo como última fase de uma evolução iniciada pelo estado teológico, considerando o mais arcaico e infantil da humanidade. Nesse sentindo , “O exame da religião positiva pões-nos, mais uma vez, diante das antiguidades comtianas: trata-se de uma racionalização do sagrado ou de uma sacralização do racional?”
No entanto, a ideologia religiosa esteve presente desde os escritos de juventude, na forma ainda obscura do poder espiritual moderno, e finalmente no Curso de filosofia positiva, obra principal de Comte, foi pensada como imanente à sociologia. De fato, seguindo o modelo da lei dos três estados, Comte se refere ao poder espiritual que predominava na idade fetichista, na politeísta e na idade monoteísta, esta última correspondendo ao estado metafísico da humanidade, e que, decadente, permanecia em crise no século XIX.
Diante do poder espiritual arruinado, Comte via a necessidade de refunda-lo em princípios não teológicos, por meio da criação de uma igreja positiva, principalmente para convencer o proletariado a abandonar o projeto revolucionário. Na obra de Comte, o termino é a concretização do principio, o paradigma religioso substituiu o paradigma da economia politica como modelo ideal da sociologia da Ordem. Como pudemos ver, transubstanciada em religião, a sociedade pode, finalmente, desenvolver, sem subterfúgios, o seu conteúdo ideológico. A religião produziria o milagre da harmonia social.
Integrando a sociedade dos vivos na comunidade dos mortos, na trindade formada pelo Grande Ser, pelo Grande Feitiço e pelo Grande Meio, seria a religião da Humanidade que forneceria o enquadramento social para colocar os indivíduos ao abrigo das convulsões históricas.

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A sociologia, ciência Soberana


Comte reconhece que a matemática, pela simplicidade de seu objeto, desde a Antiguidade teria atingido o estado positivo e a considera à parte por ser uma espécie de instrumento de todas as outras. Ao fazer a classificação das ciências, portanto, distingue cinco delas: astronomia, física, química, fisiologia (biologia) e “física social” (sociologia). O critério da classificação parte da mais simples, mais geral e mais afastada do humano, que é a astronomia, até a mais complexa e concreta, a sociologia.
Auguste Comte (1798-1857)
Essa ordem de classificação não é apenas lógica, mas cronológica, pois as ciências apareceram no tempo nessa sequência. Também é uma ordem hierárquica de poder, em que a sociologia aparece como o poder dominante em relação à totalidade do saber científico. Apesar de ser mais dependente epistemologicamente, ela seria soberana entre todas, enquanto saber da totalidade da Ordem e do Progresso da humanidade, no passado, no presente e no futuro. Aliás, o curso de Filosofia positiva em grande parte foi pensado como ensinamento aos cientistas “destinados às mais altas funções sociais”.
Comte se diz fundador da sociologia, por ter sido ele quem lhe deu o nome e o estatuto de ciência. Define-se como uma física social, mas na verdade toma os modelos da biologia e explica a sociedade como um organismo coletivo. Entusiasmara-se pela então recente teoria frenológica de Gall, que analisa a inteligência humana pela sua origem orgânica, inclusive buscando delimitar as localizações celebrais dessas faculdades, sem considerar conceitos como “eu”, “alma”, “consciência”, típicos da filosofia tradicional. Inspirado por essa teoria, Comte afirma que apenas uma elite teria capacidade de desenvolver a parte frontal do cérebro, sede da faculdade superior, ou seja, da inteligência e dos sentimentos morais, e conclui pela necessidade de a maioria dos seres humanos – dominados pela afetividade e, portanto causadores da desestabilidade social – serem moldados e dirigidos em nome da harmonia e da ordem social, a fim de garantir o “progresso dentro da ordem”.
Dessa forma, reconhece que o individuo submetido à consciência coletiva; tem pouca possibilidade de intervenção nos fatos sociais. A ordem da sociedade é permanente, à imagem da invariável ordem natural constantes, como a propriedade, a família, o trabalho, a pátria, a religião.
Para alguns interpretes, a filosofia de Comte pode ser considerada como uma reação conservadora à Revolução Francesa (1789). No entanto, Comte não pensava em uma volta ao passado, à realeza e ao catolicismo, como forma de conservar a ordem burguesa abalada pela revolução. Não pretendia eliminar o progresso, mas desenvolver uma teoria da ordem com o progresso: ele quer participar da reconstrução, instituindo a ordem de maneira soberana. E é essa ideia de ordem que domina seu trabalho de sistematização da filosofia, levando-o à necessidade de classificar as ciências e todo o conhecimento em quadros fechados, estanques. (Observe que a palavra ordem significa ao mesmo tempo “arranjo” e “mando”). É o próprio Comte que afirma: “Nenhum grande progresso pode efetivamente se realizar se não tende finalmente para a evidente consolidação da ordem”.
A história não é mais pensada como um vir-a-Ser, mas como uma sequência congelada de estados definitivos, e a evolução nada, mas é do que a realização, no tempo, daquilo que já existia em forma embrionária e que se desenvolve até alcançar o seu ponto final.  O conceito de ciência comteano é o de um saber acabado, que se mostra sob a forma de resultados e receitas. Tendo colocado a ciência positiva como o ápice da vida e do conhecimento humanos, Comte prossegue estabelecendo uma série de postulados aos quais a ciência deve se formar. O principal deles é que a ciência deve assegurar a marcha normal e regular da sociedade industrial. Ora, ao fazer isso, Comte troca a teoria filosófica do conhecimento por uma ideologia.

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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Auguste Comte e a Lei dos Três Estados


Nesse ambiente cientificista, desenvolve-se no século XIX o pensamento positivista, cujo principal representante foi Auguste Comte (1798-1857). Ao examinar o desenvolvimento da inteligência humana desde os primórdios, Comte diz ter descoberto uma grande lei fundamental, segundo a qual o espirito humano teria passado por três estados históricos diferentes: o teológico, o metafisico e finalmente o positivo.

Auguste Comte (1798-1857)
No estado teológico, as explicações são dadas a partir de uma causalidade sobrenatural: os fenômenos resultam da ação dos deuses, no metafisico os agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstratas, por noções absolutas pelas quais se procura explicar a origem e o destino do universo; finalmente, no estado positivo, decorrente do aparecimento das ciências, as ilusões são superadas pelo conhecimento das relações invariáveis dos fatos, por meio de observações e do raciocínio que visam alcançar as leis efetivas.

Para Comte, o estado positivo corresponde à maturidade do espirito humano. O termo positivo designa o real em oposição ao quimérico, a certeza em oposição à indecisão, o preciso em oposição ao vago. É o que se opõe a formas teológicas ou metafisicas de explicação do mundo.

Enfim no estado positivo, o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de obter noções absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do universo, a conhecer as causas intimas dos fenômenos, para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis efetivas, a saber, suas relações invariáveis de sucessão e de similitude. A explicação dos fatos, reduzida então a seus termos reais, se resume de agora em diante na ligação estabelecida entre diversos fenômenos particulares e alguns fatos gerais, cujo numero o progresso da ciência tende cada vez mais a diminuir.

O positivismo retoma a orientação daqueles que aproveitam a crítica feita por Kant à metafisica, no século XVII. E leva às ultimas consequências o papel reservado à razão de descobrir as relações constantes e necessárias entre os  fenômenos, ou seja, as leis invariáveis que os regem. Ao se estender as explicações sobre os fenômenos humanos, essa concepção expulsa delas a noção de liberdade. Isso porque as leis invariáveis da física se sustentam pelo postulado do determinismo segundo o qual o reino da ciência é o reino da necessidade. Entendemos por necessidade física a “determinação de um encadeamento causal, relação em que uma mesma causa determina sempre um mesmo efeito”. Nesse sentido, necessário opõe-se a contingente, ou seja, algo que pode ocorrer ou deixar de ocorrer, por ser livre e imprevisível. O determinismo cientificista desconsidera as formas de compreensão da realidade que não sejam positivistas. Portanto, expulsos os mitos, a religião, as crenças em geral e a metafisica, que papel reservado à filosofia? Segundo Comte, cabe a ela a mera sistematização das ciências, a generalização dos mais importantes resultados da física, da química, da história natural. Por isso Garcia Morente, comenta que “o positivismo é o suicídio da filosofia”.

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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Idade Contemporânea (século XIX) – O Cientificismo


Cientificismo ou cientismo é um termo forjado na França durante a segunda metade do século XIX (scientisme) para designar a escola de pensamento que aceita apenas a ciência empiricamente verificável como fonte de explicação de tudo que existe. Assim, o termo tem sido aplicado para descrever a visão de que as ciências formais e naturais têm primazia sobre outros campos de pesquisa, tais como as ciências sociais ou humanas.
O cientificismo é também, por vezes, identificado por alguns como sendo a "religião dos céticos" ou mesmo "religião da ciência", dados as suas intransigências e postura às vezes inflexíveis quanto à capacidade do empirismo e da ciência proverem resposta para toda e qualquer questão, e não apenas para aquelas questões que em acordo com a definição encontram-se sob notório escopo. Nesse contexto o cientificismo caracteriza-se por um naturalismo exacerbado que em termos de origem e suposta abrangência por vezes diverge do metodológico presente na ciência moderna.
Homem Vitruviano - Leonardo da Vinci.
A diferença entre ciência e cientificismo encontra-se no escopo de abrangência que se imputa a cada caso. Enquanto a ciência mantém assuntos e questionamentos notoriamente ligados à metafísica e à teologia do Universo alheio ao seu campo de estudo em virtude desses situarem-se fora das fronteiras que definem a ciência moderna - em nada se pronunciando por tal sobre os mesmos - o cientificismo defende ser possível alcançar as respostas para tais questões transcendentais e todas as demais com base na metodologia científica e no empirismo natural, deslocando assim as fronteiras da ciência de forma a englobar temas de estudo que, por princípio constitutivo, encontraria fora de seu escopo dada sua definição precisa. Em sua definição moderna ciência trata do universo tangível, acessível via evidências verificáveis (mas não necessariamente reprodutíveis em laboratório). Nesses termos compreendem-se as criticas do cientificismo às ciências sociais e humano dado as naturezas das evidências verificáveis utilizadas nessas áreas de estudos: em comparação com as evidências encontradas nessas áreas em particular, as assim chamadas ciências naturais contam geralmente com fatos certamente mais evidentes aos sentidos, bem como antropologicamente mais imparciais, e para o cientificismo, tudo se explica através desses últimos. O cientificismo, pois, além de ampliar o escopo sob seu domínio para além dos domínios da ciência, reduz a gama de evidências científicas aceitáveis que irão corroborar as explicações propostas no escopo em questão.
Podemos falar de um cientificismo de caráter metafísico seria a tendência a acreditar que a ciência física e natural vai resolver todos os problemas de interesse da Metafísica. Seria, portanto, a atitude intelectual de pensar que as ciências experimentais são capazes de fornecer um conhecimento completo do homem, resolvendo todos os problemas e satisfazendo todos os seus desejos, mesmo os mais altamente espirituais.
Em conexão com isso, podemos falar de outro cientificismo de caráter mais metodológico, o que tende a considerar o método quantitativo e experimental das ciências físicas e naturais como o único válido em todos os campos do conhecimento, também nas ciências humanas. A concepção de universo e os métodos dessas ciências devem ser alargados, de acordo com esta mentalidade, para todos os domínios da vida intelectual e moral, sem exceção. Este tipo de cientificismo não aceita, portanto, como conhecimento válido, mais do que a aquisição das ciências chamadas “positivas” (as ciências formais e ciências naturais), e não reconhece à razão outro papel além daquele que representa a constituição das ciências.
Esta atitude partiu em parte do empirismo e, depois, de Kant. Kant tentou negar a possibilidade da metafísica como uma ciência com sua teoria peculiar de conhecimento, dizendo que ela é incapaz de apreender a realidade como ela é, mas consiste apenas em uma espécie de fenômenos sensoriais por meio de ideias e julgamentos a priori aos quais se aplica o entendimento.
Cientificismo passou a representar um aspecto violento, embora superficial, das polêmicas anti-metafísicas desenvolvidas por alguns a partir de Kant. Neste sentido, equivale ao positivismo cientificista. A tese central de Comte, o seu principal representante, é que existe apenas um conhecimento autêntico, o das ciências positivas, a ciência dos fenômenos. A filosofia, portanto, não seria um saber distinto e independente; se reduziria para Comte, numa reflexão sobre as ciências.
O que caracteriza a mentalidade cientificista, para não ser confundido com a científica, é a tentativa de objetivar todas as causas, não reconhecendo nada além da objetividade, de integrar o mundo humano ao mundo dos objetos. Há dois princípios básicos, fundamentalmente envolvidos nesta mentalidade:
a) a verdadeira ciência é uma espécie de mecânica universal, capaz de traduzir em termos racionais todos os fenômenos, sem dar uma posição privilegiada para qualquer um deles, mesmo aqueles que ocorrem na escala humana e, portanto, com caracteres qualitativos, mas reduzindo-os em equações quantitativas;
b) o método da ciência consistiria apenas em ordenar e explicar os fatos segundo a necessidade causal. Aplicação, portanto, do determinismo universal ao mundo inteiro, incluindo o mundo humano.

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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Criticismo – Immanuel Kant

Criticismo tem origem no alemão Kritizismus, representa em filosofia a posição metodológica própria do kantismo. Caracteriza-se por considerar que a análise crítica da possibilidade, da origem, do valor, das leis e dos limites do conhecimento racional constitui-se no ponto de partida da reflexão filosófica. Doutrina filosófica que tem como objeto o processo pelo qual se estrutura o conhecimento. Estabelecida pelo filósofo alemão Immanuel Kant, a partir das críticas ao empirismo e ao racionalismo.
Immanuel Kant (1724-1804)
As teorias do conhecimento que se desenvolveram na Antiguidade e na Idade Média não colocavam em dúvida a possibilidade de conhecer a realidade tal qual ela é. Contudo as influências do Renascimento levaram, a partir do século XVII, ao questionamento da possibilidade do conhecimento, dando, nas respostas ensaiadas, origem às teorias empiristas e racionalistas. Kant supera essa dicotomia, concluindo que o conhecimento só é possível pela conjunção das suas fontes: a sensibilidade e o entendimento. A sensibilidade dá a matéria e o entendimento às formas do conhecimento. O criticismo kantiano tinha como objetivo principal a critica das faculdades cognitivas do homem, no sentido de conhecermos os seus limites. Em consequência dessa «crítica», foi levado à negação da possibilidade de a razão humana conhecer a essência das coisas (númeno).
Assim, em sentido geral, merece a denominação de criticismo a postura que preconiza a investigação dos fundamentos do conhecimento como condição para toda e qualquer reflexão filosófica. Segundo esta posição, a pergunta pelo conhecer deve ter primazia sobre a pergunta acerca do ser, uma vez que, sem aquela, não se pode garantir com segurança sobre que base à questão do ser está a ser afirmada. Levado às suas últimas consequências, o criticismo pode ser encarado como uma atitude que nega a verdade de todo conhecimento que não tenha sido previamente, submetido a uma crítica de seus fundamentos. Neste sentido, o criticismo aproxima-se do cepticismo, por pretender averiguar o substrato racional de todos os pressupostos da ação e do pensamento humanos. Devemos referir que tal como o dogmatismo o criticismo acredita na razão humana e confia nela. Mas ao contrario do dogmatismo, o criticismo "pede contas à razão".
Em sentido restrito, o criticismo é empregue para denominar uma parte da filosofia kantiana (aquela que diz respeito à questão do conhecimento). Esta se propõe investigar as categorias ou formas "a priori" do entendimento. A sua meta consiste em determinar o que o entendimento e a razão podem conhecer, encontrando-se livres de toda experiência, bem como os limites impostos a este conhecimento pela necessidade de fazer apelo à experiência sensível para conhecermos. Este projeto pretende fundamentar um pensamento metafísico de carácter cético. Entre o cepticismo e o dogmatismo, o criticismo kantiano instaura-se como a única possibilidade de repensar as questões próprias à metafísica.
Como sabemos o Dogmatismo, ele tem certeza pode conhecer. Ele tem a crença na possibilidade de conhecer, ele usa os sentidos para solucionar o problema, ele usa a razão e busca de qualquer jeito a verdade. O dogmatismo critica: é possível conhecer, mas não de maneira trivial. Crê que a razão e os sentidos podem ser enganosos. Porém, o homem pode superar a ilusão e encontrar a verdade. O dogmatismo ingênito: Acredita que vê, percebe, as coisas (o fenômeno) como são.
O Ceticismo, ele não tem certeza suspende o juízo, ele não a conhecimento, duvida da crença dos sentidos, duvida da razão, suspensão do juízo. Ceticismo Subjetivista: faz a relação entre o "sujeito e o objeto". Cético relativista: o cético relativista dado à multiplicidade do mundo não fundamento nenhum tipo de conhecimento nenhum tipo de conhecimento absoluto.
Immanuel Kant (1724-1804) nasceu na Alemanha. Interessado desde o início pela ciência newtoniana, já constituída plenamente no seu tempo, e preocupado com a confusão conceitual a respeito do debate sobre a natureza do nosso conhecimento. Questiona na sua obra Crítica da razão pura, se é possível uma “razão pura” independente da experiência, por isso seu método ser conhecido como criticismo. Ao desenvolvê-lo, Kant “ desperta do sono dogmático” em que estava mergulhado os filósofos anteriores, já que eles não questionam a existência da realidade nem duvidam que as ideias da razão correspondem a realidade.

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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A ilustração ou Aufklärung


O século XVIII é conhecido como Iluminismo, Século das Luzes, Ilustração ou Aufklärung. É à saída do homem de sua menoridade, da qual ele é o próprio responsável. A menoridade é a incapacidade de fazer uso do entendimento sem a condução de outro. O homem é o próprio culpado dessa menoridade quando sua causa reside não na falta de entendimento, mas na falta de resolução e coragem para usá-lo sem a condução de outro. Sapere aude! "Tenha coragem de usar seu próprio entendimento!” - esse é o lema da ilustração. Trata-se do otimismo no poder da razão de reorganizar o mundo humano.
Já no Renascimento, se desenrola a luta contra o principio da autoridade e a busca dos próprios poderes humanos, pelos quais o homem o tecerá próprio à trama do seu caminho. O racionalismo e o empirismo do século XVII (Descartes, Locke e Hume) dão o substrato filosófico dessa reflexão: Descartes justifica o poder da razão de perceber o mundo através de ideias claras e distintas. Locke valoriza os sentidos e a experiência na elaboração do conhecimento. Hume coloca em questão a validade universal do principio de causalidade.
A filosofia do iluminismo também sofre a influência da revolução cientifica levada a efeito por Galileu no século XVII. O método experimental fazendo surgir às novas ciências, as quais, por sua vez, aperfeiçoam ainda mais a tecnologia. Com o seu poder aumentado, o ser humano não mais se contenta em completar a harmonia da natureza: quer conhece-la para dominá-la. Por fim, a natureza passa a ser vista de forma dessacralizada, isto é, desvinculada da religião. Tornando-se livre de qualquer tutela, sabendo-se capaz de procurar soluções para seus problemas com base em princípios racionais, o homem estende o uso da razão a todos os domínios: politico, econômico, moral e religioso.
A exaltação do poder do homem decorre do fato de que a segurança do filosofo é a segurança do burguês que deve a sua inteligência, ao seu espirito de iniciativa e de previdência, o lugar que tem na sociedade. A emancipação do homem, na qual Kant vê o traço distintivo do Iluminismo, é a emancipação de uma classe, a burguesia, que atinge sua maioridade.
Nesse momento se dá o fortalecimento do sistema capitalista como modo de produção predominante, o que se exemplifica pela Revolução Industrial, marcada pelo aparecimento da maquina a vapor em meados do século XVIII e que introduz o processo de mecanização das indústrias.
De fato o século XVIII é o século das revoluções burguesas, ocorreu a Revolução Gloriosa e a Revolução Francesa. Ecos desses acontecimentos chegaram ao Novo Mundo, em movimentos de emancipação como a Independência dos Estados Unidos (1776), a Inconfidência Mineira (1789) e a Conjuração Baiana (1798).
A influência do Iluminismo se estendeu por toda a Europa, mas principalmente na Inglaterra, França e Alemanha.
Na Inglaterra, seus representantes fizeram furor em sua época, sobretudo por serem conhecidos como livre pensadores, no sentido de desenvolverem uma crítica a Igreja oficial e pregarem a tolerância religiosa. Nesse aspecto, são os iniciadores do deísmo, que dai em diante influenciará os demais pensadores iluministas, ainda que a partir de elaborações diferentes do que se entendia por religião natural, além de provocarem reações vigorosas no clero. Entre os deístas ingleses, destacam-se John Toland, discípulo de Locke, além de Antony Collins, Lord Boling-broke entre outros.
Na França, seus expoentes são Montesquieu, Voltaire, Rousseau. O poder de penetração da Ilustração na França se deve, sobretudo, ao caráter vulgarizador da produção de seus filósofos empenhados em “levar as luzes” a todos os homens. Importante nesse processo é a publicação da Enciclopédia, obra imensa cujos verbetes são confiados a diversos intelectuais como Voltaire, Helvertius, Montesquieu, Rousseau, Condillac, D’Alembert, Diderot.
Na Alemanha, o movimento é conhecido como Aufklärung. É importante acentuar a especificidade desse “país”, já que não podemos falar de autonomia nacional, pois a Alemanha não passa, naquele momento, de um agregado de Estados que têm em comum apenas a língua. (A unificação alemã só ocorrerá no século XIX). A economia feudal ainda predominante mantém o povo miserável e impede a ascensão da burguesia rica e esclarecida. Além disso, a Alemanha se acha extenuada pela Guerra dos Trinta Anos. Só na segunda metade do século XVIII começam a aparecer sinais da emancipação intelectual, sobretudo na produção literária e musical.
Na filosofia alemã as expressões maiores são: Wolff, Lessing e Baumgarden. Mas foi Kant o filósofo por excelência desse período, criando uma obra sistemática cuja influência marcará a filosofia posterior.

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