sábado, 29 de dezembro de 2012

A sociologia, ciência Soberana


Comte reconhece que a matemática, pela simplicidade de seu objeto, desde a Antiguidade teria atingido o estado positivo e a considera à parte por ser uma espécie de instrumento de todas as outras. Ao fazer a classificação das ciências, portanto, distingue cinco delas: astronomia, física, química, fisiologia (biologia) e “física social” (sociologia). O critério da classificação parte da mais simples, mais geral e mais afastada do humano, que é a astronomia, até a mais complexa e concreta, a sociologia.
Auguste Comte (1798-1857)
Essa ordem de classificação não é apenas lógica, mas cronológica, pois as ciências apareceram no tempo nessa sequência. Também é uma ordem hierárquica de poder, em que a sociologia aparece como o poder dominante em relação à totalidade do saber científico. Apesar de ser mais dependente epistemologicamente, ela seria soberana entre todas, enquanto saber da totalidade da Ordem e do Progresso da humanidade, no passado, no presente e no futuro. Aliás, o curso de Filosofia positiva em grande parte foi pensado como ensinamento aos cientistas “destinados às mais altas funções sociais”.
Comte se diz fundador da sociologia, por ter sido ele quem lhe deu o nome e o estatuto de ciência. Define-se como uma física social, mas na verdade toma os modelos da biologia e explica a sociedade como um organismo coletivo. Entusiasmara-se pela então recente teoria frenológica de Gall, que analisa a inteligência humana pela sua origem orgânica, inclusive buscando delimitar as localizações celebrais dessas faculdades, sem considerar conceitos como “eu”, “alma”, “consciência”, típicos da filosofia tradicional. Inspirado por essa teoria, Comte afirma que apenas uma elite teria capacidade de desenvolver a parte frontal do cérebro, sede da faculdade superior, ou seja, da inteligência e dos sentimentos morais, e conclui pela necessidade de a maioria dos seres humanos – dominados pela afetividade e, portanto causadores da desestabilidade social – serem moldados e dirigidos em nome da harmonia e da ordem social, a fim de garantir o “progresso dentro da ordem”.
Dessa forma, reconhece que o individuo submetido à consciência coletiva; tem pouca possibilidade de intervenção nos fatos sociais. A ordem da sociedade é permanente, à imagem da invariável ordem natural constantes, como a propriedade, a família, o trabalho, a pátria, a religião.
Para alguns interpretes, a filosofia de Comte pode ser considerada como uma reação conservadora à Revolução Francesa (1789). No entanto, Comte não pensava em uma volta ao passado, à realeza e ao catolicismo, como forma de conservar a ordem burguesa abalada pela revolução. Não pretendia eliminar o progresso, mas desenvolver uma teoria da ordem com o progresso: ele quer participar da reconstrução, instituindo a ordem de maneira soberana. E é essa ideia de ordem que domina seu trabalho de sistematização da filosofia, levando-o à necessidade de classificar as ciências e todo o conhecimento em quadros fechados, estanques. (Observe que a palavra ordem significa ao mesmo tempo “arranjo” e “mando”). É o próprio Comte que afirma: “Nenhum grande progresso pode efetivamente se realizar se não tende finalmente para a evidente consolidação da ordem”.
A história não é mais pensada como um vir-a-Ser, mas como uma sequência congelada de estados definitivos, e a evolução nada, mas é do que a realização, no tempo, daquilo que já existia em forma embrionária e que se desenvolve até alcançar o seu ponto final.  O conceito de ciência comteano é o de um saber acabado, que se mostra sob a forma de resultados e receitas. Tendo colocado a ciência positiva como o ápice da vida e do conhecimento humanos, Comte prossegue estabelecendo uma série de postulados aos quais a ciência deve se formar. O principal deles é que a ciência deve assegurar a marcha normal e regular da sociedade industrial. Ora, ao fazer isso, Comte troca a teoria filosófica do conhecimento por uma ideologia.

Próxima postagem: A religião da Humanidade

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