segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O idealismo Hegeliano e a Dialética Idealista


A filosofia kantiana influenciou o pensamento do século XIX, seja na orientação dada pelos materialistas e positivistas, seja na dos idealistas, entre os quais se destacam Fichte, Shelling e Hegel.
Wilhelm Hegel (1770-1831)
O alemão Wilhelm Hegel (1770-1831) introduz uma noção nova, de que a razão é histórica, ou seja, a verdade é construída no tempo. Partindo da noção kantiana de que a consciência (ou sujeito) interfere ativamente na construção da realidade, propõe o que se chama de filosofia do devir, ou seja, do ser como processo, como movimento, como vir-a-ser. Desse ponto de vista, o ser está em constante transformação, donde surge a necessidade de fundar uma nova lógica que não parta do princípio de identidade (estático), mas do princípio de contradição para dar conta da dinâmica do real, a que chama a dialética.
Para tanto, Hegel desenvolve novo conceito de história, também dialético: o presente é engendrado por longo e dramático processo; a história não é a simples acumulação e justaposição de um processo cujo motor interno é a contradição dialética.
Segundo a dialética, todas as coisas e ideias morrem. Como diz o poeta Goethe: “Tudo o que existe merece desaparecer”. Mas essa força destruidora é também a força motriz do processo histórico. A ideia central é a de que a morte é criadora, é geradora. Todo o ser contém um si mesmo o germe da sua ruína e, portanto, da sua superação. O movimento da dialética se faz em três etapas: tese, antítese e síntese, ou seja:
1.      Tese: afirmação;
2.      Antítese: negação;
3.      Síntese: negação da negação.
Ao explicar o movimento gerador da realidade, desenvolve uma dialética idealista: no sistema hegeliano, a racionalidade não é mais um modelo a se aplicar, “mas é o próprio tecido do real e do pensamento”. O mundo é manifestação da ideia, “o real é racional e o racional é real”. A história universal nada mais é do que a manifestação da Razão.
Como ponto de partida do devir, Hegel coloca não a natureza – a matéria -, mas a ideia pura (tese). Esta, para se desenvolver, coloca um objeto oposto a si, a Natureza (antítese), que é a ideia alienada, o mundo privado de consciência. Da luta desses dois princípios antitéticos nasce uma síntese, o Espírito, há um tempo pensando e matéria, isto é, a ideia que toma consciência de si através da Natureza.
O conhecimento estabelecido a partir de uma realidade dada, imediata, simples aparência, é chamado por Hegel de conhecimento abstrato, ao qual opõe o conhecimento do ser real, concreto, que consiste em descrever o modo como uma realidade é produzida. Conhecer a gênese, processo de constituição pelas mediações contraditórias, é conhecer o real. Por esse movimento a Razão passa por todos os graus, desde o da natureza inorgânica, da natureza viva, da vida humana individual até social.
Os dois últimos graus (do homem individual e social) são a manifestação, num primeiro momento, do Espírito subjetivo do homem, ainda encerrado na sua subjetividade (enquanto emoção, desejo, imaginação). Ao Espírito subjetivo se opõe a antítese do Espírito objetivo, ou seja, o espírito exterior do homem enquanto expressão da vontade coletiva por meio da moral, do direito, da política: o Espírito objetivo se realiza naquilo que se chama mundo da cultura. Essa relação antítese é superada pelo Espírito absoluto, síntese final em que o Espírito, terminando o seu trabalho, compreende-o como realização sua. A mais alta manifestação do Espírito absoluto é a filosofia, saber de todos os saberes, quando o Espírito atinge a absoluta autoconsciência. Por isso, Hegel a chama de “pássaro de Minerva que chega ao anoitecer”, ou seja, a crítica filosófica se faz ao final do trabalho realizado.
Na filosofia posterior a Hegel, tornou-se fecunda a ideia de que a razão histórica e se transforma a partir dos conflitos e contradições. Como vemos, ora os pensadores reafirmam o caráter determinante da razão e reforçam o idealismo, ora criticam esse idealismo, como os marxistas, que enfatizam as contradições sociais e políticas como determinantes do processo que provoca a mudança da própria razão.

Próxima postagem: O Materialismo Marxista

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